“Nem São Paulo, Rio de Janeiro ou Recife; a cidade mais violenta do Brasil fica no interior. A pequena Jequié, na Bahia, se tornou palco de uma guerra entre facções criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas. A reação da polícia deixou a população com ainda mais medo. Acompanhe esse caso chocante”. Com esse lead o jornalista apresentador Sergio Aguiar iniciou na noite de 28/04/2024, a chamada para uma reportagem do jornalista Marcus Reis, intitulada “O Medo de quem vive na cidade mais violenta do país: Guerra entre criminosos afeta moradores”.
O conteúdo da reportagem levada ao ar em rede nacional pela TV Record, provoca reação e indignação dos moradores de Jequié, cidade referência da matéria, que discordam frontalmente do estigma de “Cidade Mais Violenta do País”, trazendo como referência os dados levantados em 2022, pelo FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA e divulgados em 2023, pelo 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. em São Paulo. A estatística que serve como base do anuário é o número de homicídios, para cada grupo de 100 mil habitantes. O Ten. Cel. Marcelo, comandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, com sede em Jequié, ainda não estava no cargo quando foi feito o levantamento, mesmo assim, discorda totalmente dos números. “Os dados levantados e divulgados possivelmente incluíram mortes que ocorreram durante intervenções policiais, juntando-os aos homicídios”, diz.
A quem interessa divulgar que Jequié é a cidade mais violenta do País? Esse tem sido o principal questionamento pelos quatro cantos da “Cidade Sol”. A matéria postada no Youtube do Programa Domingo Espetacular, alcançou mais de 100 mil visualizações em menos de 24 horas e, se transformou no assunto mais discutido na cidade, nas últimas horas com interpretações diversas.
Uma dessas linhas de interpretações é de que a construção do Conjunto Penal de Jequié, no período 1998-2002, foi o fator determinante para o recrudescimento da violência, com a chegada de detentos de outras localidades para cumprir penas e, os seus envolvimentos com as facções criminosas que atuam na disputa por áreas do tráfico de drogas.
Para a grande maioria dos que reprovam o direcionamento da reportagem, uma opinião parece unânime na população: “A violência se espalha por todas as cidades, Jequié não é uma exceção a regra, desde as metrópoles até as de médio e pequeno portes mas, apontar Jequié como a mais violenta do Brasil foge completamente da realidade vivida pela sua comunidade”. Muitas pessoas consideram Jequié ainda uma cidade tranquila para morar. “Sabemos que existem locais perigosos dominados pelo tráfico. Contudo, não estamos em meio a uma guerra de facções como tentam nos impor. Não estamos impedidos de ir às ruas, às praças seja durante o dia, seja a noite”, afirmou uma professora que preferiu não se identificar.
Outro comentário também comum entre os moradores, são as ligações feitas por seus familiares que moram em outras cidades, outros estados e até em outros países, assustados e preocupados em busca de informações. “Isso é muito ruim, chega a ser cruel”.
Uma cobrança toma corpo no momento: Que a classe política, independentemente de questões partidárias, associações de classe, clubes de serviços, imprensa e demais representantes de segmentos da comunidade, se unam às forças de segurança pública e, que busquem todos juntos uma reparação em torno do assunto que, tenha como foco, restabelecer a verdade e retirar a imagem extremamente negativa com a qual o município de Jequié vem sido marcada a partir da divulgação desses dados.